sábado, 12 de julho de 2008

Vivenciando II - Restaurante Universitário



Férias da Faculdade, agora posso escrever sem ter data para entregar. Agora entendo quando os filhos dizem que não tem tempo para nada, aliás, agora que estou vivenciando certas experiências legitimamente deles entendo muitas coisas......

Criei um pequeno Manual, para quem vai encarar a vida acadêmica .....


Pequeno Manual de Sobrevivência para Usuários do R.U.

Prezad@ Calour@:

O restaurante universitário, localizado na Avenida João Pessoa, serve mais de mil refeições diárias. Para que o seu funcionamento não seja prejudicado, precisa contar com a colaboração dos alunos da U.F.G.R.S.
Dicas Importantes:
1- A carteirinha que você faz no dia de sua matrícula abre várias portas de sua vida acadêmica, a porta do ônibus, a porta das bibliotecas e a do R.U. Nunca saia de casa sem ela.
2- Todo conhecimento adquirido com as tardes de vídeo-game será muito importante nesse momento, pois o conceito de fases caracteriza uma refeição no R.U.

Fase 1 : Fila

A fila inicia na porta do restaurante e pode seguir “toda vida” até a Rua Avaí, você pode esperar de dez, até vinte minutos na rua para entrar, não esqueça de protetor solar, óculos, boné, chapéu de palha no verão. No inverno, luva, touca, casaco. Se chover o guarda-chuva não adianta, pois o vento Minuano faz a curva para entrar na João Pessoa bem em frente ao R.U.
A fila é o melhor lugar para você saber das festas e do teor etílico de cada uma, é onde você fica sabendo da política interna da U.F.G.R.S, é também onde candidatos a cargos eletivos fazem prestações de contas e apertam as mãos dos eleitores.
É o lugar para descobrir se a mochila ou bolsa que você carrega é pesada, se o monte de roupa que você colocou de manhã está exagerado ou se você vai passar frio mais tarde.

Fase 2: Roleta

Você sobreviveu à fila, fique com a carteirinha, o dinheiro de preferência trocado R$ 1,30 sem suco, R$ 1,60 com suco nas mãos. Avance até o balcão, insira a carteirinha no local apropriado, pague e ultrapasse a roleta. Siga até a fase 3.

Fase 3: Encruzilhada
Se você não quis o suco, terá menos escolhas para fazer vai sair da encruzilhada mais rápido. A encruzilhada consistedecidir se você vai colocar a mochila nas prateleiras abertas ou vai deixar nas costas (escolha complicada), ou vai deixar nas mãos ( essa é uma péssima escolha )
Lavar as mãos é a próxima decisão, no banheiro ou nas pias ? Se tem sabonete e toalhas de papel, você não precisa secar a mão na roupa ou pegar o “bandejão” com as mãos molhadas.
Se você optou pelo suco vai ter que decidir se é agora ou depois que você vai pegar.

Fase 4: Servir a comida

São três “ilhas” de pratos quentes e salada, não se iluda o tempo médio de qualquer uma das três é de + ou – 4 minutos. A dificuldade dessa fase é como segurar e posicionar o “Bandejão”, sem bater na mochila que está nas costas do colega da frente, sem virar o feijão no tênis, sem servir de algo que você pensava que era uma coisa e era outra bem diferente, sem pensar que está em casa e pode ficar pensando na hora de servir. Aqui literalmente a fila anda. Depois das “ilhas”, a carne e a sobremesa, se você posicionou mal o “bandejão” a carne poderá ficar com alguns resquícios de mingau. Enquanto servem a sobremesa tente localizar os guardanapos e o palito, tente armar uma estratégia para pega-los com as duas mãos ocupadas. No final dessa fase se você já pegou o suco e ainda não virou nadinha você ganhará um bônus.

Fase 5: O lugar de cada um

A escolha de lugar dependerá de sua visão, popularidade, sorte e atitude. Se você é solitário e ainda não conhece ninguém sente na passarela em frente às ilhas, algum colega pode vê-l@ e fazer companhia. Se você já conhece todo mundo do cursinho, é alt@, a chance de ser convidad@ aumenta bastante. Se você faz o tipo que “ tô nem aí” senta onde tem lugar, o almoço é um bom momento de conhecer gente nova e de outros cursos. Se você ainda não pegou o suco essa é a hora. Delicie-se esses almoços serão inesquecíveis, barulhentos, rápidos e engraçados. Quando terminar, levante-se leve a bandeja até o local apropriado, separe os talheres e coloque na bacia, faça isso o mais rápido que puder, proteja sua roupa, depois coloque o guardanapo e o copo no cesto certo. Pegue seu material dirija-se à saída e parabéns, você conseguiu.

Importante:
Oficialmente é proibido guardar lugar para colegas.
Treine em casa descascar laranja com colher.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

CARNAVAL E BORBOLETAS


NOS FERIADOS O NÚMERO DE BORBOLETAS TATUADAS NO ASFALTO AUMENTAM...., ASSUSTADORAMENTE TOMAM CONTA DE AVENIDAS E ESTRADAS, SAEM DE CASULOS DE METAL, DE ALCÓOL, DE DROGAS, VOANDO POR JANELAS, PARA-BRISAS, PRESAS EM CINTOS DE SEGURANÇA TEIMAM EM ALÇAR VÔO.


"VIDA LOUCA, VIDA BREVE, JÁ QUE EU NÃO POSSO TE LEVAR QUERO QUE VOCÊ ME LEVE." CAZUZA


E NÓS OS PAIS TEIMAMOS EM ASSISTIR CALADOS TODO PROCESSO DE DESTRUIÇÃO, FINGIMOS QUE NÃO VIMOS QUANDO ELES COMEÇARAM, FINGIMOS NÃO VER COMO ISSO IA ACABAR.


PARA NÓS RESTA O OUTRO VERSO DE CAZUZA:


"VIDA LOUCA, VIDA IMENSA, NINGUÉM VAI NOS PERDOAR NOSSO CRIME NÃO COMPENSA"


domingo, 27 de janeiro de 2008

vivenciando


Hoje, já conformada com o fato que os filhos crescem mesmo, não importa o quanto façamos para que eles permaneçam nossos bebês, resolvi tratar de algumas coisas que precisava fazer antes que eles crescessem o suficiente para deixa-los ir. Para amenizar o pânico que essa possibilidade me causa, pensei nas inúmeras coisas que comecei e não terminei, estudar por exemplo.


Tive muita sorte de ser de uma geração que o segundo grau era de grande valia profissional, meu diploma do curso de Magistério do Sévigné abriu muitas portas, trabalhei em ótimas escolas, fui morar sozinha com dezoito anos e sustentava-me com meu salário de professora. Isso foi na segunda metade do século passado.


Agora mais que nunca, preciso do curso superior, já tentei duas vezes na rede particular, uma quando era bem jovem e achava que quem não havia feito um curso pré- vestibular não devia tentar a UFRGS, não consegui terminar o curso de História na PUC, outra já bem mais velha entrei no IPA, vinte cinco anos depois de entrar na sala de aula de um curso universitário entrar em um lugar com colegas indígenas, com aulas de educação ambiental, história da arte, tive a certeza que Paulo Freire estava muito feliz onde estivesse. Mais uma vez não con$$egui terminar, não achava justo pedir uma bolsa de estudos que poderia ser dada para um aluno mais jovem.


Então se quero estudar, devo fazer como meus filhos, enfrentar o vestibular da UFRGS.


Logo no ano em que as vagas diminuiram em função de algo que considero uma justa reparação histórica, chegando na escola em que fiz as provas ví muitas filhas já criadas- a minha opção é pedagogia, um curso predominantemente feminino- quando ví a mais forte concorrente de cada candidata aparecer. A tensão, as expectativas, as idas ao banheiro que multiplicaram-se no dia da prova de redação, as discussões sobre as cotas. Os problemas nesses quatro dias são multiplicados na ansiedade de cada uma, tive vontade de dizer:


Gurias, esses quatro dias não são os mais importantes, os melhores ou os piores da vida de vocês, vocês não serão mais amadas, menos respeitadas, se passarem ou rodarem, se for por acesso universal, pelas cotas, por estudo, por confiança, por sorte. A vida dá tanta volta, concentrem mais energia na prova e menos nesses minutos que antecedem, relaxem.


Vivenciei, vesti a pele dos filhos criados enfrentando um problema super dobrado que é o vestibular. É mais fácil enfrentar isso sendo mãe, não tenho mais pai e mãe para cobrar, se passar será uma festa, se rodar, tenta outra vez ano que vem. Não vou negar, quando terminou foi um enorme alívio, entreguei a prova para o fiscal e fui chorar no banheiro.


Passsssssei!!!!!!!!!!!!!!


A matrícula é outra emoção, agora não tenho mais desculpa$, é aproveitar cada minuto que tenho para estudar.


É incrivel como vivenciar coisas que seriam do momento deles faz mudar nossa perspectiva sobre nossos filhos criados e seus problemas dobrados.




quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Menino que parte


Parei um tempo de escrever aqui, aqui é mais difícil. Achei que seria mais fácil e engraçado falar dos filhos criados. Engano.

Às vezes é divertido, agradável ver os filhos crescerem, às vezes é uma dor enorme, mesmo que você crie uma distância segura e confortável para observar de longe.

Filho é um pedaço da gente, o pedaço mais precioso e importante, sem o qual não podemos viver.

Hoje vou escrever para dividir dor, dor que invadiu minha semana, acordou os piores medos que uma mãe pode ter.

Vou escrever sobre um menino que partiu, um menino que só conheci pelas fotos do Orkut, pelos depoimentos de minha filha e das centenas de amigos, conhecidos, colegas que deixaram uma homenagem no site de relacionamento.

Um menino que partiu cedo, deixou mãe, irmãs e namorada, deixou planos, estudos, trabalho, uma prancha que não vai mais pro mar.

Falar o quê nessa hora?

Meninos e meninas por favor não morram. Vocês não sabem a falta que fazem no mundo, em casa, na vida da gente. Depois que o menino partiu, choveu, choveu para lavar a alma dos amigos, da família. Para muitos foi o primeiro contato com a morte.

Aprenderam com o menino que a morte não avisa, espreita.

Lembraram que viver é breve, mas é cada dia.

Aprenderam da forma mais triste o valor dos bons momentos.

A felicidade é construída desses bons momentos, e o menino teve muitos bons momentos e viveu cada um deles. O menino foi feliz e cada um dos amigos partilhou um pedaço dessa felicidade. Agora cada um dos amigos vai viver modificado pela perda.


domingo, 29 de julho de 2007

Sair de Casa


Imagem cedida por Dione Veiga Vieira

Quando os filhos estão criados, não significa obrigatoriamente, que eles sairão de casa. Existem hoje os filhos cangurus, que dão os seus pulinhos depois voltam correndo para a quentinha bolsa da mamãe.


Precisamos como pais, dividir espaços domésticos com outros adultos, com opiniões diversas, hábitos diferentes, que transitam no mesmo corredor, sentam na mesma sala, dormem sob o mesmo teto.


E que além de serem adultos, querem ainda ser tratados como filhinhos. O lado bom disso, é que não atravessaremos a meia idade olhando para quartos vazios, ou passaremos o final de semana esperando um telefonema. No final de semana a população da casa poderá dobrar, os quartos estarão cheios e bagunçados e você não esperará telefonema algum, porque o telefone estará sempre ocupado.


Também não chegamos mais na meia-idade, continuamos trabalhando e ativos, estressados e preocupados, e pode até ser conveniente os filhos continuarem em casa, parece que o tempo não passa.


Mas sair de casa é um passo importante e obrigatório para o crescimento, se não existe a possibilidade real de sair, criamos subterfúgios para uma saída emocional, pelo menos, que possa manter o espaço necessário psíquico dos pais e dos filhos.


Se não saem pela porta, saem pela internet, pelos estudos, pelo trabalho. Afastam-se por saberem ser vital a saída.


A distância geográfica, cria a oportunidades de novas perspectivas, que podem valorizar as que eles levarão na bagagem. Não será sem um pouquinho de saudades, de escolhas que não dependerão de nosso olhar, talvez até de dificuldades.


Mas eles precisam sair, para crescer, para escolher, para tentar, mesmo que a casa dos pais seja um ninho acolhedor, divertido e cômodo.


Para que não sejam adultos dependentes. Sair, alçar voôs, descobrir sem os pais, possibilidades, amores, dores, amizades, formas diferentes de enfrentar antigos problemas. A saída de casa é crescimento emocional, social, político. É tomar conta de sí, é cuidar-se, é protagonizar a sua história. Para os pais é saber que aquela pessoa, que é uma parte de seu coração, que é muito de sí mesmo, que é amor e apreensão, está finalmente caminhando com suas próprias pernas, voando com suas asas,sem o apoio que foi dado até então. Acreditar que o voô será bem feito, será bom, é nossa parte à partir de agora. Às vezes queremos segurá-los, aguardando um momento, uma situação que julgamos ser mais adequada, um vento mais ameno, mas eles precisam enfrentar as condições que julgam conseguir.

domingo, 22 de julho de 2007

Gravidez


Meu filho pediu para que eu escrevesse sobre gravidez ...........


Na verdade ele pediu para que eu escrevesse sobre como eu sobrevivi após saber que ele seria pai aos quinze anos.


Meu filho, criado entre suas três irmãs sempre foi muito tranqüilo e caseiro. Viveu sempre em um universo bem feminino, leu muito e não gostava da escola como um local para aprendizagem formal, era para ele um local de pessoas conversarem e trocarem idéias.


Teve namoradas, gosta muito de jogos da internet, adora rock e passou na UFRGS de primeira, sem cursinho e vindo de colégio público .....


E ... quando tinha quinze anos, numa noite em que eu estava especialmente cansada de tudo e de todos, ele me contou que a namorada estava grávida. Todo o mundo como eu conhecia parecia criar uma mobilidade insuspeita .... Tive uma taquicardia horrorosa e um mal-estar, não pensei que sobreviveria aos primeiros dez minutos.


Nos dez minutos que passaram ele contou ao pai, às irmãs, todos tiveram as reações mais impulsivas possíveis. Eu fiquei quieta em meu mal-estar.


Levei três dias para falar sobre o assunto, consegui chorar ao falar com uma amiga, estava no shopping ( local mais estranho), desci nas Americanas e comprei um par de meias de bebê.


Quando cheguei em casa ele estava dormindo, pensei em tudo que iria mudar na vida dele e de todos, ele ainda não estava criado suficientemente para ser pai.


Ele ainda era uma criança, uma criança que devia estar muito assustada com tudo que estava acontecendo, uma criança que iria enfrentar coisas de adulto ....


Chamei ele, entreguei as meias, agora eu também precisaria crescer, talvez das muitas formas que eu ainda não tinha conseguido crescer.


Só depois de três dias consegui abraçar meu filho.




As notícias


Como vivemos tempos de muita incerteza, medo e apreensão, ouvimos as notícias que envolvem jovens com sentimento de solidariedade para com os pais. Sejam boas ou más notícias, criamos uma rede de empatia com os pais destes jovens. Algumas notícias, pensamos logo ...se fosse eu, nem sei como reagiria.
Ao saber de algo bom , pensamos - Que orgulho e alegria, para estes pais e estes filhos. A mãe do atleta da natação do Pan, vendo seu filho quebrar recordes, grita com toda sua força da arquibancada, e nós ajudamos com nossa torcida interna. Nossa torcida que grita na sala-de-casa. Sentimos que somos uma grande família com o êxito destes jovens.

Ao saber de algo trágico, sentimos uma dor imensa, como mãe sabemos que não adianta dizerem que era hora, destino... Ainda mais quando a tragédia está atrelada a fatores que dependeriam de algo que não é destino. Depende de fatores de responsabilidade, de manutenção de valores que deveriam ficar acima do lucro e do poder.

Como mães somos testados em nossa paciência, tolerância, das formas mais diversas. Nenhuma forma de teste ou qualquer situação possível deve ser pior do que a de perder um filho.

Até escrever sobre isso causa profunda angústia e tristeza, quando vejo pessoas como a Diza Gonzaga, que é capaz de transformar sua eterna dor em amparo e colo, rezo para que força igual a dela domine as mães enlutadas.